segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O Vulto na noite

Coberto pelo véu da noite,
Anda calmamente.
Levemente.
Seus olhos procuram as pedras pelo caminho.
Somente as pedras.
Suas vestes negras tremem com o vento,
Mas apenas tremem,
Vacilam pelo momento

Notei sua figura,
Linhas entrelaçadas,
Sob o luar.
Singelas, desprezadas.
Um belo vulto na escuridão.
Mistério sem razão.
Que faz lá?
Todas as noites seu livro carregando?
Diria que sua branda tristeza
o deixa chorando...

Queria poder "Quem tu és?" lhe perguntar
Tenho medo,
Não de sua figura sinistra,
Negra e rubra.
De não lhe acalentar,
De alegre não o deixar

Essa noite não veio
Fiquei na janela a esperar
A espera de pela primeira vez
Seus olhos encontrar.
Andei pela chuva
Gelada.
Vi sua forma
Alada.

Meu corpo arrepiou-se ao som da sua nobre voz
Como sinos, puro amor
Nenhum algoz,
Nenhum terror.

- Que queres?
Escutei as palavras em seus lábios dançarem.
- Seus olhos.
Escutei as palavras dos meus escaparem.

Soltou o livro da mão
Com um rumor
Fez-se no chão
Vi em seus lábios um sorriso,
Humor. Som do guizo.

Seu manto retirou de repente
A visão inundou minha mente.
Não eras belo,
Não eras feio.
Eras singelo,
Como se estivesse quebrado ao meio.
Seus olhos.
Lindos olhos.
Cor do céu.
Não, do véu.
Sem explicação.
- Meu Deus, ilusão! Porque toda noite aqui se encontrar?
Minha voz, sussurro.
- Rezar.
Sua voz, estrondo.
Minha mente, burra,
Confusa.

Olhei ao seu pé,
"Livro Sagrado da Fé",
Olhei ao seu manto.
Acalanto.
Sua vida, com muitos muros.
Mas seus olhos, puros.
Conheci.
Percebi.
- Santificai-me Senhor.
Deus do Mito,
Coberto pelo véu da noite,
Infinito.
Vacilo de um momento.
Desfez no vento.

Um belo vulto na escuridão.
Mistério sem razão.


Autora: Larissa Porto.





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