Sábio é o que se contenta....
Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.
Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que vida
Passa por ele tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.
Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isso,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a voz chorando
O passar das bacantes.
E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que abominável onda
O não molhe tão cedo.
Por: Ricardo Reis
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